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Olá a todos,

Vim aqui postar um post que encontrei e achei muito interessante, por isso gostaria de dividir com vocês.
Quem escreveu foi Érika Pellgrino no dia 02 de dezembro de 2008, o blog é "Borboleta Preta".
Pelo que vi, é o 3º de uma sequência de posts sobre ciência, esse no caso inclui a discussao de Ciência X Religião, mas bem discutido.

Segue o post:

"Ciência 3: para onde vamos?

Nos últimos posts eu discuti a ciência comparando-a com a religião por achar esse paralelo bastante válido e ilustrativo, e pretendo extrapolá-lo em todos os sentidos nesse e no próximo post.
É bastante freqüente ouvirmos a oposição entre esses dois campos, como se fossem pólos opostos e jamais associáveis. Considero essa uma mentalidade alguns séculos atrasada, como se ainda vivêssemos numa época em que houvesse só uma religião, como se todas as pessoas que a seguissem fossem iguais e como se ainda queimassem na fogueira quem ousasse pensar um pouco além. Isso, claro, é uma visão da religião do lado de quem a condena em detrimento da ciência, que é o ponto de vista com o qual estou mais familiarizada depois de ler tantos comentários em blogs da vida.
É interessante que Descartes, que estabeleceu as bases da ciência moderna com seu "Discurso sobre o Método", nunca dissociou ciência e religião para tanto. Na verdade, muito pelo contrário, foi sua compreensão divina que lhe permitiu libertar-se do pensamento aristotélico preponderante na época, de que as coisas existiriam por si só ou de que haveria um aspecto místico ou transcendental na própria natureza. Para Descartes, tudo era passível de dúvida, e só a dúvida levaria à busca de evidências, análise e síntese de informações para explicar os fenômenos naturais.
Em sua lógica, afirmava que Deus deveria existir e ser o criador do homem. É dele a célebre afirmação “Penso, logo existo”. Mas ele prossegue: “Portanto, penso e sou. Mas que sou eu? Justamente um ser que pensa e que duvida e que nega.” Mas um ser que pensa e que duvida é um ser imperfeito e finito. Ora, como poderia ele sabê-lo, ou seja, perceber – e claramente – a sua própria finitude essencial e a sua imperfeição, se não tivesse, em si mesmo, uma idéia de alguma coisa infinita e perfeita, ou seja, como poderia ele compreender-se a si próprio sem ter ao mesmo tempo uma idéia de Deus? Assim, para a lógica cartesiana, o perfeito existe antes do imperfeito e o infinito antes do finito, mas no pensamento humano, é quando se atinge o limite que percebe-se o finito, apesar de imaginarmos muitas vezes o contrário. Descartes afirma ainda que “esta idéia do ser perfeito, tão esplêndida e tão rica, é de tal modo superior a nós que não pode provir de nós próprios que somos fracos, finitos, imperfeitos. Não pode provir de nenhum ser finito. Não pode provir senão de Deus”.
A referência de onde tirei a maior parte do texto desse último parágrafo afirma que Einstein gostava muito de se meter em assuntos de religião sem ter nenhum conhecimento do que estava falando, e suas afirmações não tinham nada de novo, só alcançando alguma importância em discussões pelo peso de sua figura. E é exatamente por esse peso que coloco aqui um texto famoso, que está até na Wikipédia:
“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo – uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai – , um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos”.
O que eu quero dizer com esses textos é que a religião e a ciência não estão em lados tão opostos assim, senão todos os grandes cientistas seriam grandes ateus convictos.
Na verdade, uma das grandes semelhanças entre essas duas áreas é que são confundidas em sua essência, que é certamente abstrata, com implicações ou estruturas bem concretas, principalmente por aquelas pessoas que são obtusas demais para entender qualquer coisa abstrata.
Ou seja, muitos dos que odeiam a religião não sabem muito bem que na verdade o que odeiam é a Igreja e tudo o que é semelhante a ela em termos de exploração humana, objetivos materialistas ou intolerância. Negam a religião pelo seu histórico de guerras e burrice que se deve a suas instituições absolutamente humanas e certamente tão concretas quanto seus objetivos financeiros. Claro que é fácil esquecer que a religião tem natureza mística, espiritual e transcendente, e que nada místico, espiritual ou transcendente vai, no fim das contas, mandar as pessoas pra guerra ou cobrar o dízimo.
Da mesma forma, a ciência acaba, aos olhos de muitos, sendo espelhada pelas instituições que afirmam basear-se nela. Se por um lado todas as grandes religiões do mundo têm em comum o fato de pregarem o bem, e a ciência tem o esse mesmo objetivo máximo, visando a melhoria da qualidade de vida do ser humano, por outro lado ambas têm as guerras e a intolerância caminhando junto com elas e manchando sua história.
Afinal, a questão que motivou essa série de posts e que já estava no ar desde o primeiro é: para onde vamos? Usei o Vioxx para exemplificar os podres da ciência. Uma outra história muito boa é a de Cesare Lombroso, um cientista e médico italiano que estudou a loucura, e, baseado na antropologia voltou-se para um lado mais legal e descreveu o tal do “criminoso nato”. Segundo ele, as características antropométricas (medidas feitas no corpo, como a distância entre os olhos, a distância do olho à testa, o tamanho do nariz ou sua distância ao queixo, por exemplo) predisporiam as pessoas a serem criminosos, o que teve repercussão muito importante no direito penal do mundo todo. Hoje em dia, só alguns idiotas ainda acham que esse cientista, outrora grande e respeitado, estava certo, porque na verdade suas medidas do corpo correspondiam ao padrão de italianos que viviam nas regiões mais pobres, e que por razões sociais, e não genéticas, cometiam mais crimes na Itália. Mas não deixou de ser uma coroação do preconceito pela ciência.
E se a religião tem a Igreja, as Cruzadas ou o tal do “fundamentalismo” islâmico motivando os terroristas por aí, a ciência tem a indústria farmacêutica, a bomba atômica e as experiências em campos de concentração nazista. Tudo em nome da fé; tudo em nome da ciência. O Júlio comentou no primeiro post que “é difícil a gente aceitar que não existe um plano superior, transcendental, seja ele cientifico, religioso ou mítico... O homem é, afinal, só um animal um pouquinho mais espertinho que os outros e é uma angustia sem tamanho conviver com isso”.
E se a religião caminhou de forma desfavorável a ela mesma – tanto que hoje é “pop” ser ateu, graças a essas confusões, contradições e à visão fechada das pessoas, a ciência tem tudo para seguir o mesmo caminho. Da mesma forma que hoje os ateus baseiam-se numa lógica cartesiana para rejeitarem qualquer idéia de Deus, o próprio Descartes foi incapaz de fazê-lo, talvez muito pela própria época em que vivia. Enquanto isso, aqui estamos nós, certamente encerrados num outro paradigma, outro dogma, além do qual não conseguimos enxergar por vivermos numa época em que a ciência é tão inquestionável. Por isso não conseguimos vislumbrar a possibilidade de a própria ciência ser desacreditada amplamente ou que seja considerada um novo vírus mental que impede as pessoas de enxergarem o próximo paradigma, que ainda não sabemos qual é.
Um pouco dessa tendência já me parece bem clara, graças às divisões que parecem se impor entre o que é e o que não é ciência, entre as diversas formas de vê-la, entre as diferentes metodologias e diferentes sistemas de pensamento vigentes na concepção dessa ciência. Tudo me lembra a formação de novas religiões, sempre a partir das mesmas idéias mas que gostam tanto de reiterar que não têm nada em comum, de querer mostrar que é a certa, que é melhor que as outras. É o caso da Homeopatia e da Alopatia, da Psiquiatria e da Psicologia (e dos infinitos campos dentro da psicologia), da Medicina Tradicional Chinesa – e deve haver mais inúmeros exemplos com os quais eu não estou familiarizada.

Bem, era pra eu ter publicado isso em novembro, que vergonhosamente só teve um post, porque é um mês desgraçado de provas em que eu não tenho tempo. Talvez por isso tenha ficado um pouco grande, e era pra ter mais coisa, porque a série sobre ciência devia ser uma trilogia; mas achei melhor prolongar um pouco e separar o 4º post, que vai servir mais como um adendo e quem sabe como um gancho pro próximo assunto. Só tenho que me segurar pra não publicá-lo logo amanhã (já que estou de férias e agora tenho tempo de escrever), que é pra dar tempo das pessoas comentarem esse, o que certamente vai enriquecer o próximo." (Por: Érika Pellegrino)

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